quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Tomates ou Limões?


Excessos. Lojas que tem “tudo”. Na internet uma enxurrada de objetos e serviços ao alcance de um click... Para que tantas possibilidades? Onde está o prazer da surpresa, do inesperado, da experiência suave de visitar o negócio de alguém com um nome e um rosto e ali descobrir coisas, com a possibilidade de realizar uma verdadeira troca de pessoas reais?

Entre a impessoalidade do supermercado imenso que tem tudo e o sorriso do espanhol do pequeno empório da esquina onde as vezes não tem tomate, minha escolha é ficar um dia ou dois sem tomates. Não encontrei tomate mas ele me explicou porque não havia, e ainda me ensinou sobre um irmão que só ali existia e que naquele dia foi a melhor fruta de todos os mundos.

Acredito que o mesmo possa acontecer nos negócios que se dedicam em oferecer objetos, móveis e coisas que precisamos para o espaço mais íntimo e importante de nossas vidas: nossa casa. Se procuro algo que fará parte do lugar onde vivo, diante de tantas e infinitas possibilidades, porque não tentar fazer dessa busca uma pequena e importante experiência de descoberta, aprendizado e emoção?

Minha opinião é de certa forma tendenciosa, pois sou alguém que além de dar muita importância à beleza e história dos objetos que me cercam também possuo um espaço onde vendo coisas (e para complicar também crio muitas delas). Mas minha escolha sempre será a de procurar os objetos que farão parte da minha vida em lugares únicos, especiais e que me dêem prazer.

Esses lugares são raros, mas acredito que cada vez mais presentes. Não excluo a praticidade de comprar algo na internet ou numa grande loja, também faço uso deles. Mas mais importante é minha necessidade da experiência ao entrar em pequenos negócios (ou não tão pequeno assim) onde sinto que o que está ali foi cuidadosamente escolhido, objetos dispostos com o mesmo cuidado de quem arruma a casa para receber amigos, ali tenho pequenas surpresas e descobertas únicas.

Ter um lugar assim não é difícil. Basta acreditar na própria sensibilidade, ter amor pelo trabalho e independência ao escolher os objetos que farão parte dele. Sou lojista mas também criador de objetos e móveis que forneço para outras lojas. Já escutei de algumas pessoas que revendem o que produzo, frases como “eu adoro isso, quero para mim, mas meus clientes não vão entender”. Não acredito nisso. Tenho certeza que meus bons clientes são aqueles que confiam em mim, querem aprender e embarcar comigo numa bela viagem em busca do novo e do futuro.
E ao tentarmos criar lugares assim, detalhes são tão importantes. Receber as pessoas bem, como amigos que certamente serão. Por menor e mais simples que seja o espaço, a luz pode ser pensada e cuidada, a posição de cada objeto num determinado espaço pode contar uma história e causar emoção.

Uma embalagem delicada sempre faz diferença, uma vitrine que contenha um minimo de conceito é um prazer para quem a criou e para quem foi criada.


Temos que acreditar que mesmo nos comércios as pessoas possam se conhecer mais, trocar experiências e realizar sonhos. (Caio de Medeiros F. - Estúdio Manus)